O Google é o máximo. Com uma única consulta ("comédia romântica Austrália") achei o filme que estava procurando: Paixão e Sedução, do diretor Jonathan Teplitzky.
Um casal de estranhos volta de uma festa no mesmo táxi. Conversam, rola um clima, eles terminam na cama dela. Horas depois, na segunda vez que estão transando, a moça grita "eu te amo!" Mais tarde, durante aquele intervalo que no passado era chamado de pausa do cigarro, ela avisa: "Não leve a sério o 'eu te amo', tá? Sempre falo isso quando estou gozando".
Lembrei do filme ao ouvir uma amiga se perguntar, em voz alta, se ela algum dia tinha dito "eu te amo" com sentimento "verdadeiro": "Sempre disse 'eu te amo' movida pela paixão, no calor do desejo. Ou cheia de ternura depois de um sexo bem feito".
Conclusão dela: "As pessoas dão importância demais a essas palavras. Elas não mudam a vida de ninguém. São apenas uma expressão do momento, uma declaração de tesão. Amo você neste minuto. Só."
Será? Talvez haja um jeito diferente de cada pessoas sentir o amor. Talvez homem e mulheres tratem isso de formas distintas.
Nós, homens, costumamos jogar na defesa. A cultura masculina recomenda desde a adolescência agir com cautela. É comum um amigo dizer ao outro, com a melhor das intenções: "Não deixe ela perceber que você está tão apaixonado".
É por isso que filmes e novelas tratam com esmero aquele momento da trama em que o homem (sempre um bruto com dificuldades emocionais) finalmente se confessa apaixonado – em geral com palavras toscas, relutantes, mas sempre carregadas de sentimentos. É um clichê que invariavelmente comove as mulheres.
Vi algo assim no primeiro capítulo da segunda temporada de True Blood, que começou no domingo passado na HBO. A sofrida declaração de amor do vampiro Bill Compton à jovem Sookie Stackhouse provoca nela um mar de lágrimas – e dá início a uma das melhores cenas de sexo já feitas para a TV. Enfim.
É claro que nem todos os homens têm medo das palavras. Quem não se lembra das declarações de amor instantâneas de Vinícius de Moraes, registradas no documentário de 2005 de Miguel Faria Jr.? Era tudo muito autêntico, muito emotivo, mas, para quem assiste ao filme, parece farsa. Ou caso terminal de carência afetiva. Provavelmente bebedeira. Embaraçoso, de qualquer forma.
Com as mulheres sempre foi diferente. Por alguma razão elas têm menos receio de expressar seus sentimentos. Os homens quase sempre são pegos de surpresa por aquelas palavras sussurradas no ouvido, depois de um abraço apertado: eu te amo!
Como reagir a elas, o que responder? Essa é uma velha questão, que não tem resposta única.
Há quem vá na onda e solte o clássico – e pífio – "eu também". Acho feio. Prefiro os que lidam com a situação de forma realista. Ouça, respire, sorria, diga algo gentil – mas não minta. Eu mesmo devo ter dito as três palavras mágicas apenas meia dúzia de vezes, e nunca na forma de "eu também".
Quer dizer então que homens não têm sentimentos?
Não. Quer dizer que em geral precisamos de mais tempo para expressá-los. Quer dizer também que temos outra linguagem. O afeto masculino se traduz em atenções, em presença constante, em alegria de rever. E em desejo, claro. As palavras vêm depois, quando vêm.
"Eu te amo", para muitos homens, pode ser impronunciável antes da hora. Pode soar postiço, mentiroso, meio escroto se não for totalmente sincero. Ou tomar a forma de um compromisso pesado para os que levam as palavras a sério.
Há uma série de outros verbos – gostar, querer, sentir falta – que pavimentam o caminho antes que o sujeito, afinal, se decida a dizer o indizível. Quando estiver pronto para fazê-lo.
Dito isso, homens em geral não desgostam de ouvir essas coisas, desde que elas tenham contexto. Às vezes as mulheres enlouquecem e decidem que amam alguém que mal sabe que elas existem. Não é disso que estamos falando, claro.
Mas é gostoso saber que a pessoa que faz você feliz está feliz também. E apaixonada. Aliás, um dos fascínios das mulheres mais jovens é que elas dizem coisas doces com a maior naturalidade, sem temor algum. É tocante. À medida que o tempo passa, as mulheres vão se tornando mais cautelosas, como os homens.
Diante das irrevogáveis diferenças de estilo e temperamento, sugiro uma solução de compromisso.
Quem gosta de dizer "eu te amo", diga: desabafe, solte o coração, comova-se. "Eu preciso dizer que te amo", cantava o Cazuza. Faz sentido. E o tempo se encarrega de corrigir equívocos.
Mas não exija, por favor, que o outro faça o mesmo. Para alguns, as palavras têm de ser vividas demoradamente antes de pronunciadas. É amor do mesmo jeito, mas quietinho.
adorei o post
ResponderExcluirótimo isso
realmente nos, mulheres temos mais facilidade em
lidar com sentimentos do que os homens..
nao sei como cheguei nesse blog
sei q adorei,,,parabéns!!