Aprenda a fazer bom planejamento financeiro - se ele for ruim, nenhum investimento salvará suas economias
Marcos Coronato
O mercado brasileiro já oferece ações de mais de 500 companhias abertas e mais de 8.000 fundos. Falta de opções de investimento, então, não é um problema. Começar a guardar dinheiro já partindo para as aplicações, porém, não é o caminho mais curto para realizar projetos de longo prazo, como acumular para a aposentadoria. Defina seu plano, escolha a estratégia para executá-lo, e só então faça as aplicações. "Escolher produtos financeiros é a parte técnica do seu plano. É a última parte a colocar em prática", diz o professor de finanças Alexandre Assaf Neto, da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto. Para ajudar você nessa empreitada, Época Online conversou com especialistas e chegou a uma lista de dez mandamentos básicos para o bom planejamento:1. ADOTE DEFINIÇÕES OBJETIVAS
Acostume-se a usar números para descrever onde está e aonde quer chegar. "Ficar rico" ou "ter uma aposentadoria confortável" não são metas objetivas. "É preciso definir o projeto de vida com dados concretos: qual é o valor desejado, por quanto tempo será necessário investir e qual será o uso do dinheiro", afirma Márcio Matos, superintendente de Investimentos da Brasilprev. Com a previsibilidade da economia, essas contas se tornaram mais úteis. Apenas como referência, eis alguns cálculos feitos pela SulAmérica Seguros e Previdência, que podem ajudar você a definir essa trajetória (os números são aproximados):
Se você conseguir rentabilidade de 6% ao ano, em média, poderá ter
R$ 1 milhão em 30 anos, aplicando R$ 1.020 por mês ou
R$ 750 mil em 20 anos, aplicando R$ 1.650 por mês ou
R$ 230 mil em 20 anos, aplicando R$ 500 por mês
O CDI, índice que determina a remuneração de boa parte dos investimentos de renda fixa (como fundos DI) está pouco abaixo dos 11% ao ano. Ele tende a cair nos próximos anos, e essa rentabilidade é reduzida pela cobrança das taxas de administração dos fundos. A Bolsa rendeu, em média, 22% ao ano desde 1995, segundo a consultoria Economática. Isso não significa que essa valorização vá se repetir, mas indica que ela é possível no longo prazo.
2. SAIA E FIQUE FORA DO VERMELHO
Contas da casa organizadas e ausência de dívidas dão a você mais liberdade para decidir como aplicar. Antes de tentar ser um às dos investimentos, tente ser um às do orçamento doméstico. "Existe uma similaridade muito forte entre dieta e finanças", afirma Assaf Neto, da USP. Ambas exigem força de vontade, disciplina e mudanças de hábitos.
3. PARA PRAZOS DIFERENTES, CORRA RISCOS DISTINTOS
Separe claramente quais são suas necessidades de curto, médio e longo prazo. Não há um critério rígido de tempo que indique o que é curto e o que é longo prazo, mas é possível classificar as pendências assim: todo dinheiro que tem prazo certo para ser gasto, contas, dívidas e capital para emergências deve ficar em segurança, na renda fixa. O dinheiro que você puder guardar sem pensar em gastar é o de longo prazo e pode ir para aplicações mais arriscadas, na renda variável.
4. ESCOLHA OS INVESTIMENTOS COM CUIDADO
Se sua estratégia está definida, você sabe de quanto dinheiro dispõe para investir e quanto de risco pode correr, é hora de escolher como aplicar. Lembre-se de diversificar, ou seja, não deixar que o dinheiro todo corra o mesmo tipo de risco; e de comparar as taxas cobradas pelas instituições financeiras.
5. NAS FASES BOAS, POUPE MAIS
Não apóie seu planejamento na expectativa de que sua vida vai melhorar, por causa de promessas de aumento, mudança de emprego ou ajuda dos pais, por exemplo. Se a melhora acontecer, porém, aproveite-a e passe a poupar mais. Não conte com a possibilidade de a fase boa durar para sempre, alerta Halfeld.
6. PREPARE-SE PARA TRABALHAR MUITO
Apressar-se e parar de trabalhar cedo pode significar acumular menos dinheiro que o necessário para uma velhice tranquila. "O ideal seria investir ao longo de uns 30 anos. Quem se retira muito cedo, dificilmente poderá aproveitar bem o resto da vida", diz o consultor atuarial Paulo Mente, ex-presidente da Abrapp (associação dos fundos de pensão).
7. NÃO ESGOTE O DINHEIRO
Não cumpra metas gastando todo o dinheiro reunido. Programe-se para fazer grandes gastos (como compra de carro, compra de imóvel ou viagem ao exterior) e, ainda assim, manter uma reserva para emergências e dinheiro para a aposentadoria investido e rendendo.
8. ENVOLVA A FAMÍLIA
Será muito mais difícil cumprir seus planos se você não contar com a colaboração de sua cara-metade e de seus filhos. Convença-os das vantagens do plano para a família inteira.
9. FAÇA REVISÃO E MANUTENÇÃO DO PLANO
Atenção: por melhor que seja, seu plano vai precisar mudar ao longo do tempo. Ele precisa se adaptar a mudanças no cenário econômico (se os juros subirem, pode ser a hora para aplicar mais na renda fixa) e na sua vida (os filhos estão saindo de casa? Talvez você possa aumentar a poupança mensal). Faça revisões periódicas da estratégia e do cumprimento das metas parciais, a cada semestre ou a cada ano. "Quando o plano falhar, em algum momento, é preciso entender o que aconteceu e fazer as mudanças necessárias", diz Cláudio Gonçalves, da consultoria financeira Planner.
10. APROVEITE O QUE CONSEGUIU - COM PRUDÊNCIA
Conforme o investidor envelhece, pode transformar em dinheiro os ativos que acumulou, como ações e imóveis. É importante fazê-lo de forma programada, sem pressa, para não perder dinheiro, alerta Osvaldo Nascimento, diretor de Previdência do Itaú Unibanco.
Simulação: William Eid/FGV
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