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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Água e envelhecimento!

> Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do quarto ano de
> Medicina, lanço a pergunta:
> "Quais as causas que mais fazem o vovô ou a vovó terem confusão mental?"
> Alguns arriscam: "Tumor na cabeça:".Eu digo: "Não".Outros apostam: "Mal de
> Alzheimer".
> Respondo, novamente: "Não".
> A cada negativa a turma espanta-se. E fica ainda mais boquiaberta quando
> enumero os três responsáveis mais comuns: diabetes descontrolado; infecção
> urinária; a família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idosos
> ficaram em casa.
>
> Parece brincadeira, mas não é. Constantemente vovô e vovó, sem sentir sede,
> deixam de tomar líquidos. Quando falta gente em casa para lembrá-los,
> desidratam se com rapidez. A desidratação tende a ser grave e afeta todo o
> organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial,
> aumento dos batimentos cardíacos ("batedeira"), angina (dor no peito), coma
> e até morte.
>
> Insisto: não é brincadeira.
> Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água.
> Na adolescência, isso cai para 70%.
> Na fase adulta, para 60%.
> Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água.
> Isso faz parte do processo natural de envelhecimento.
> Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica. Mas há outro
> complicador: mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água,
> pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.
>
> Explico: nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles
> que verificam a adequação do nível. Quando ele cai, aciona-se
> automaticamente um "alarme". Pouca água significa menor quantidade de
> sangue, de oxigênio e de sais minerais em nossas artérias e veias. Por
> isso, o corpo "pede" água. A informação é passada ao cérebro, a gente sente
> sede e sai em busca de líquidos.
>
> Nos idosos, porém, esses mecanismos são menos eficientes. A detecção de
> falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas.
> Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam
> movimentar-se até para ir tomar água.
>
> Conclusão:idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva
> hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu
> corpo. Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de
> grandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol.
> Basta o dia estar quente - e o verão já vem aí - ou a umidade do ar baixar
> muito - como tem sido comum nos últimos meses. Nessas situações, perde-se
> mais água pela respiração e pelo suor.
> Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa. Mesmo que o
> idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho das reações químicas e
> funções de todo o seu organismo.
>
> Por isso, aqui vão dois alertas.
> O primeiro é para vovós e vovôs: tornem voluntário o hábito de beber
> líquidos. Bebam toda vez que houver uma oportunidade. Por líquido
> entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite. Sopa, gelatina e frutas
> ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina, também
> funcionam. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para
> dentro. Lembrem-se disso!
>
> Meu segundo alerta é para os familiares:
> ofereçam constantemente líquidos aos idosos.Lembrem-lhes de que isso é
> vital. Ao mesmo tempo, fiquem atentos. Ao perceberem que estão rejeitando
> líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do
> ar, atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de
> desidratação. Líquido neles e rápido para um serviço médico.
>
> Arnaldo Lichtenstein (46), médico, é clínico-geral do Hospital das Clínicas
> e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de
> Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

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