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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ela foi interesseira e se arrependeu

Férias na Europa, sexo ruim; roupas de grife, desconfiança de que o marido saía com garotas de programa; restaurantes carésimos, distância das amigas e da mãe... A publicitária Rose*, de 33 anos, acreditou que casar com um homem rico funcionaria como um substituto para o amor. E se arrependeu.


OBS: Sim, o depoimento lembra essa carta.

SOU ROMÂNTICA e sei que sempre vou aceitar presentes, jantares e até convites para viagens, entre outros mimos masculinos. No entanto, entendi que tudo isso é apenas uma pequena parte do que realmente importa em um relacionamento a dois. Aprendi a lição a duras penas, depois de ter casado por conveniência e experimentado uma união unicamente fundamentada no dinheiro. Naquele momento, tudo o que eu enxergava era a chance de mudar de vida do dia para a noite. Queria desesperadamente me libertar de uma rotina sem graça e estressante.

ESSA HISTÓRIA MALUCA começou há cinco anos. Eu estava formada em marketing havia três e trabalhava em uma agência de publicidade de São Paulo por um salário de fome. Morava na casa dos meus pais e, ainda assim, mal sobrava grana para comprar uma roupinha mais descolada no fim do mês ou para fazer um programa legal. Por mais que economizasse, vivia sempre naquela pobreza do "Ou isso ou aquilo", o que me deixava profundamente inconformada. Escutando dia após dia a voz autoritária do meu chefe dando ordens como uma sirene, eu sentia que desperdiçava ali o meu talento e a minha juventude: entrava às 9 da manhã e não tinha hora para sair, o que significava chegar à minha casa mais de 10 da noite quase todos os dias - exausta e desanimada, depois de pegar ônibus e metrô.

FORÇAS PARA ir à academia? Nem pensar. Curtir uma happy hour no meio da semana? Jamais. Fazer algum curso ou ir a um show maneiro? Loucura. Na verdade, descobri pouco depois que insanidade mesmo foi me entregar a um homem totalmente incompatível comigo só para virar madame e não ter mais de viver de um salário a outro. Infelizmente, ao dizer "sim" diante do altar, eu não imaginava que um casamento baseado apenas nos 100 mil reais que meu futuro marido ganhava por mês custaria tão caro a ponto de me fazer perder o gosto pela vida e cair em depressão. Eu achava que seria muito fácil dividir minha vida com alguém que tinha o que me faltava: dinheiro.

CONHECI O OTÁVIO na festa de um colega da agência. Sentada, tomando uma bebida e pensando em ir embora para acordar cedo no dia seguinte, dei aquela olhada geral no salão para ver se identificava algum gato, mas nenhum deles chamou a minha atenção. Resolvi, então, conversar com algumas colegas e pôr as fofocas em dia no andar de cima, onde ficava a pista de dança. De repente vi se aproximar de mim um rapaz meio barrigudinho e até simpático. Ele me abordou com o básico "Oi, tudo bem?", o que não me incomodou. Achei que seria alguém interessante com quem conversaria naquela festa meio monótona e nada mais.

CONVERSA FOI, conversa veio, cheguei até a me identificar com o Otávio, especialmente quando ele disse gostar de alguns lugares que eu também aprovava. Pensando bem, a lista dele era praticamente igual à minha. Além disso, tinha uma lista interminável de assuntos, embora demonstrasse certa arrogância. Ignorei esse fato me convencendo de que, afinal, ninguém é perfeito. Ele pediu mais bebidas e continuamos a bater papo, até que tentou me beijar e não deixei. Mais tarde, depois de virar uma cerveja a mais, cedi e não achei tão ruim como imaginara. No fim da noite, ele se despediu me convidando para jantar em um restaurante japonês bem bacana no dia seguinte. Como estava solteira e sem programa, aceitei.

LOGO DE CARA, sentados à mesa, ele fez comentários que decidi ignorar mais uma vez. Em nome do meu respeito às diferenças, fingi que achava normal um homem revelar a uma garota que gostava de sair com prostitutas e que suas duas últimas namoradas eram casadas. Otávio dizia isso com cara de orgulho, como se não fosse absolutamente nada de mais. Apesar dos pesares, continuamos a sair, sempre nesse clima pouco estimulante, a não ser pelos programas proporcionados por seu alto salário e status como administrador de empresas.

COMO NOS PRIMEIROS três ou quatro meses nós não nos víamos com muita freqüência, pensei que estava em um momento de entressafra e que eu logo partiria para outra, assim que encontrasse alguém mais bacana. Sei que ele também não me amava, mas gostava da minha companhia e de me exibir para os amigos porque sou bonita. Pareço uma Gisele Bündchen em versão mais modesta: alta, loira e de olhos azuis, mas não tão magra a ponto de virar top model internacional. Além disso, tenho voz e gestos meigos. Pelo menos sempre ouvia esse tipo de elogio dos meus ex-namorados.AOS 35 ANOS, Otávio afirmava durante as nossas conversas que queria ter filhos. Foi assim que comecei a vislumbrar a chance de engravidar, me tornar mãe, me afastar definitivamente do trabalho e viver uma vida de luxo. Acordaria tarde, passaria os dias na academia e compraria roupas em lojas caras. Além de rodar pela cidade de motorista, é claro! No quinto mês de namoro, ele deu o primeiro lance do meu "leilão". Avisou que sairia de férias e gostaria que eu o acompanhasse pela Europa durante um mês, tudo por sua conta. Fiquei eufórica, mas respondi que não poderia me ausentar do trabalho. Ele respondeu: "Saia do emprego e na volta nos casamos". Sem pensar direito, topei na hora.

DO PONTO DE VISTA da minha mãe, eu estava fazendo um bom casamento. Minha amiga Cláudia, experiente, avisou que a personalidade desagradável do Otávio viraria a maior encrenca. Já a Nanda achou a idéia fantástica e admitiu estar morrendo de inveja da minha futura vida de madame. "Não agüento mais sair com homem e ter de dividir a conta", desabafava ela. Enfim, sem pensar em mais nada, troquei o estado civil e comecei a querer engravidar. A primeira tentativa foi em Paris e as outras por aqui mesmo. Enquanto isso, minha rotina se resumia a fazer compras na rua Oscar Freire, repleta de lojas caríssimas, freqüentar os restaurantes da moda, festas e viajar. Por mais agradável que fosse tudo aquilo, experimentava também o gosto amargo do desamor, da insatisfação e da dependência financeira completa. Nesse meio-tempo, sofri dois abortos espontâneos.

NÃO SEI SE FOI conseqüência das tentativas frustradas de engravidar, mas o sexo entre mim e Otávio, que já deixava a desejar, começou a piorar cada vez mais. Nas primeiras em que ele falhou, eu achei até graça. Com o passar dos meses, no entanto, a situação se tornou freqüente e o clima começou a pesar. Nada que eu fizesse o ajudava a chegar lá. Assumi a culpa, mas a verdade é que meu marido falava as coisas mais grosseiras durante a transa e nas piores horas. Não havia tesão que resistisse mesmo. Acabei comprando um vibrador. No fundo, eu não tinha escolha - se não fosse o bendito aparelhinho, nada de orgasmo.

COMECEI A FICAR amargurada, especialmente porque dependia cem por cento dele para fazer qualquer coisa. Eu me sentia como uma criança que tem de pedir permissão para comprar um pirulito e dar uma voltinha na praça. Ao mesmo tempo, sabia que nada do que exibia nos armários era fruto do meu esforço. Tenho de admitir que o Otávio tentava a todo custo me convencer de que melhor marido não existiria no mundo, mas fazia isso com um tipo de conversa doentia. Por exemplo: vivia falando sobre assaltos, seqüestros e até estupro para que eu achasse a nossa casa o lugar mais incrível e seguro do mundo. "Aqui você tem conforto e está protegida", repetia ele.

O MESMO TIPO de apologia meu marido fazia consigo mesmo, vangloriando-se de sua fidelidade. Dizia que todos os seus colegas enganavam a esposa com amantes, enquanto ele, ao contrário, se dedicava somente a mim. "Onde mais você vai achar um cara como eu?", repetia a torto e a direito, em alto e bom som. Hoje, tenho minhas dúvidas de que ele foi realmente fiel enquanto estivemos casados. Será que não deu suas escapadas para sair com as garotas de programa de que tanto gostava? Sinceramente, não ponho minha mão no fogo. Além disso, sempre que aparecia uma oportunidade, dava um jeito de fazer uma lavagem cerebral para me afastar das amigas e da minha mãe. Afirmava, para quem quisesse ouvir, que elas só me visitavam porque queriam dinheiro emprestado.

DEPOIS DE ALGUM TEMPO, pensei em voltar a trabalhar. Tentei explicar ao Otávio que seria bom para a minha auto-estima, mas ele detonou completamente a idéia, dizendo que eu não tinha qualificação suficiente para conquistar um emprego que valesse a pena sair de casa. O pior é que eu concordava, pois gastava com roupas em um único dia muito mais do que ganharia em um mês. Esse tipo de conversa acabava por me tirar o ânimo. Àquela altura do campeonato, eu já estava acordando ao meio-dia, como forma de escapar da realidade. Além disso, também procurava o que fazer, pois morria de tédio, bem ao contrário do que fantasiara antes do casamento. Quem agüenta passar dias, semanas, meses só fazendo compras? Por incrível que pareça, ninguém. Pelo menos para mim, o vazio parecia enorme. Comecei a sentir saudade da correria e até do cansaço da minha rotina de "escrava" na empresa, como eu costumava dizer no passado.

COMECEI A TOMAR umas doses de uísque no fim do dia para relaxar. Depois, dei para comer exageradamente - uma maneira de preencher a vida. Sem perceber, passava da conta todo dia. Mesmo tendo tempo de sobra para freqüentar a academia, morria de preguiça. Engordei e já não conseguia me ver linda dentro daquelas roupas compradas na Oscar Freire. A saída, então, era ir para o banheiro e vomitar. Depois, veio a fase de perder a paciência até para a comida. Fui ao médico e precisei tomar antidepressivos. Meu caso era sério, pois esse psiquiatra insistiu que eu marcasse horário toda semana. Eu chegava lá e me dava um branco. Sentia sono e não conseguia dizer uma palavra sequer. A situação foi ficando cada vez pior. Havia dias em que eu não saía da cama nem atendia ao telefone. Sabe o que o Otávio fez quando percebeu que minha mãe passou a me incentivar a pedir a separação? Comprava presentes e mais presentes caríssimos e sofisticados para ela.

QUANDO EU MELHORAVA um pouquinho, meu humor parecia de velório. Roupas, jóias e sapatos da grife Prada, que eu tanto amava, já não me faziam feliz. No dia em que assinamos os papéis do divórcio - dois anos e meio depois do casamento -, eu estava um farrapo: olheiras profundas, cabeça na lua, sempre cansada, um verdadeiro zumbi.

HOJE, AOS 33 ANOS, de volta à vida de solteira e muito mais disposta, parei de tomar os comprimidos de antidepressivos. Recuperei aos poucos minha vivacidade e, por ironia do destino, retornei ao mesmo tipo de trabalho que tinha antes de virar madame. O salário continua igualmente baixo, mas agora considero meu querido emprego a coisa mais importante do mundo! Ainda não encontrei um novo amor, mas não foi por falta de opção. Apenas senti que precisava me conhecer melhor, ficar um pouco sozinha e pensar com calma no que realmente preciso conquistar para ser feliz. Quero me tornar cada vez mais independente e explorar as minhas próprias possibilidades. Também prometi a mim mesma respeitar meus sentimentos em vez de colocá-los em último plano. Chega! Acredito de corpo e alma que daqui para a frente minha vida será cada vez melhor."


Fonte: Aqui.

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