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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Jesus e a nossa Páscoa de cada dia

A ressurreição se fundamenta no poder de criar e recriar(Foto: REPRODUÇÃO  MIKHAIL NESTEROV)
É impossível falar de Páscoa Cristã sem falar sobre a Ressurreição de Jesus e, é muito oportuno falar deste tema considerando as implicações para a nossa vida. O que dá sentido à vida traz plenitude ao coração humano e lhe dá razões para viver. O sentido de vida fecunda a nossa esperança e torna esta esperança ativa. A raiz da esperança dos cristãos se encontra na ressurreição de Jesus Cristo.

A esperança cristã além de transcender os limites do mundo apontando para a vida em Deus é suficientemente forte para nos ajudar a resistir ao mal e nos solidarizar com as vítimas das injustiças e nos indignar com a banalização da vida e a morte transformada em espetáculo para se alcançar grande audiência.

Para Jesus, a morte de seus amigos foi dolorosa. ``Jesus chorou`` (Jo. 11, 35). O quarto evangelho está expressando a reação de Jesus diante da morte de seu amigo Lázaro. Até mesmo o pressentimento de sua morte foi vivido entre tristezas e angústias.



A morte é uma experiência tão exigente que nem mesmo a fé cristã na ressurreição diminui a seriedade e a dor deste momento. E, no entanto, a morte está sempre presente, ela acompanha qualquer organismo vivo. O ser humano tem consciência que vai morrer e de que a morte parece se antecipar no envelhecimento e nas enfermidades e, o que ainda é pior, através da violência. Apesar desta consciência vivemos e agimos como se não fôssemos morrer.

A ressurreição de Jesus afirma um amor mais forte que a morte. Cristo ressuscitou como o pioneiro dentre muitos irmãos. A ressurreição não é uma projeção de um profundo desejo humano. Antigos patriarcas, Abraão, Isaac e Jacó consideravam a morte normal, e a recompensa que buscavam para a fidelidade a Deus era a vida longa, a descendência e a posse da terra.

A esperança humana foi lentamente se abrindo para a fé na ressurreição a partir de crises. Crise ao ver que o justo padecia e o ímpio era bem sucedido e a crise maior diante do mártir. Como a morte poderia ser o fim para aquele que foi fiel na vida e permaneceu fiel no momento da morte, quando a vida lhe foi tirada por causa de sua fé? O martírio foi a provocação mais eloquente para a afirmação da ressurreição dos justos (2 Macabeus 12, 42-45).

A razão da esperança cristã encontra-se em Jesus Cristo. Nele todas as promessas de Deus recebem o seu Sim. Cristo ressuscitou e também ressuscitarão os que estão em Cristo (1 Tm 1,1; 2 Cor 1,20; Rm 4, 16 -25). Deus nos amou e continua a nos amar em Jesus Cristo e nada nos separará deste amor (Cf. Rm 8, 31-39). Ele é o Deus da vida e não da morte, é o Senhor amigo da vida (Sb 11, 24-26).

A ressurreição não se fundamenta apenas no amor, mas no poder de criar e recriar: ``Aquele que pode criar o que não era, não poderá refazer o que era?`` Questiona Santo Agostinho ao comentar o artigo: ``Creio na ressurreição dos mortos``. O que é significativo na esperança cristã é que a partir da humanidade de Jesus a morte foi vencida. Se alguém de nossa carne venceu a morte esta vitória se abre para todos. A condição é viver como Jesus viveu, é compreender o significado da afirmação: ``Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida`` (Jo 14, 6).

A ressurreição é a autenticação de uma vida, é Deus atestando ser Jesus o Caminho que desemboca na Vida. Portanto, a ressurreição não tira dos cristãos nenhuma responsabilidade em relação a este mundo. A esperança cristã na ressurreição implica a luta cotidiana contra a morte e o empenho em defesa da vida. Nossa Páscoa de cada dia será sempre marcada por este seguimento de Jesus, a atenção aos valores que Ele ensinou com sua própria vida.

A criação que geme e o clamor desta gente oprimida não estão distantes, estão diante de nós. Suplicamos a salvação, desejamos a paz irmanada com a justiça, imploramos piedade e suplicamos compaixão. No entanto, que testemunho o Senhor pode sustentar?

A Páscoa não pode ser uma celebração anual, ela precisa ser um testemunho cotidiano sustentado por Deus, que apresse a Salvação. Porém, ao nosso redor há uma criação a gemer, irmãos oprimidos e excluídos, há violência e uma paz falsa por ser conivente com as injustiças, e nos sentimos questionadas pelos escândalos de corrupção.

É pascal assumir erros e fazer reparações, apenas um exemplo neste sentido, reconhecer a corrupção e devolver o dinheiro público para políticas públicas salva vidas.

É pascal pensar em alternativas de educação, trabalho e cultura para as juventudes, livrando-as das drogas, da violência. É pascal ter um novo estilo de vida, sóbrio, anti-consumista, preservando os dons da natureza, dentre eles, a água potável.

Teremos sempre muitos desafios diante de nossos olhos e o imperativo de sermos criativos na busca de vivências pascais. O dinamismo da vida cristã é da morte para a vida. Celebrar a ressurreição é comprometedor e cada pessoa precisará encontrar caminhos concretos para passar das mortes que nos cercam para compromissos em defesa das vidas mais ameaçadas.


>> TEREZINHA DAS NEVES COTA é religiosa da Congregação Nossa Senhora do Cenáculo há 30 anos, professora da Faculdade Católica de Fortaleza há 10 anos, membro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

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