Se os Jogos de Vancouver pudessem ser contados em um livro, a história não poderia ser classificada em apenas uma seção. Nos 17 dias de provas, houve humor, drama e aventura espalhados por episódios que ficarão guardados nas lembranças olímpicas. Entre barrigas que ganharam medalhas, surtos que tentaram estragar a festa e tragédias que deixaram o mundo de luto, as montanhas do Canadá deixaram a sensação de frio de lado e abriram a década com dez capítulos de emoções fortes no esporte.
O estressado
Surto é pouco para falar o que aconteceu com Sven Kramer em Vancouver. Ele até começou bem. Depois de roer todas as unhas, o holandês soube que era campeão dos 5.000m da patinação de velocidade e correu – dessa vez, para fora da pista – para pular o alambrado e abraçar a família. Porém, nove dias depois, desclassificado por uma irregularidade em sua apresentação nos 10.000m, o “monstro laranja” surgiu em Vancouver. Óculos voaram, cones da pista foram chutados e gritos e choros ecoaram pelo Coliseu do Pacífico.
O figuraça
Aos 47 anos e com 90kg, Ruben Gonzalezpoderia estar em casa assistindo a partidas de futebol e comendo – mais – besteiras sentado no sofá. Mas esse não era o destino desse argentino bem humorado. O que ele queria mesmo era ser o astro das Olimpíadas. Símbolo do ditado “o importante não é vencer, mas competir”, o gordinho se diverte com a sua sina de sempre terminar em último lugar nas provas olímpicas do luge. Em Vancouver, foi a quarta vez que isso aconteceu, mas o sorriso simpático não desapareceu de seu rosto.
A esperta
Foram quatro anos de preparação. Tanto esforço nos treinos não poderia acabar com uma simples queda. Depois de cair na penúltima curva da semifinal por equipes da patinação de velocidade, Anna Friesinger-Postma não quis nem olhar para atrás. A alemã seguiu se arrastando de barriga até cruzar a linha de chegada e depois só comemorou a vitória por 23 centésimos sobre a rival americana. E a esperteza ainda teve mais recompensa. Na decisão, seu time venceu o Japão por dois centésimos e ela ainda levou a medalha de ouro para casa.
A polêmica
Derrotar uma grande rival é um feito para ser muito comemorado. Se for nos Jogos Olímpicos então, merece festa dupla. Mas não na quadra. Após vencer os Estados Unidos na final do hóquei, as jogadoras canadenses beberam cerveja e champagne, além de fumarem charutos sentadas na pista de gelo, com a medalha de ouro no peito. A cena registrada por diversos fotógrafos gerou polêmica em todo o mundo e o Comitê Olímpico Internacional (COI) já avisou que vai abrir uma investigação sobre o caso.
A guerreira
Rochette agradece a medalha conquistada
Joannie Rochette já estava na vila olímpica quando recebeu a notícia de que sua mãe havia sofrido um ataque cardíaco e morrido a caminho de Vancouver. Em homenagem a ela e ao pai, que é seu treinador, a canadense decidiu que precisava seguir em frente e continuou os treinos para sua apresentação na patinação artística. Quatro dias depois da tragédia familiar, a patinadora teve seu esforço recompensado e conquistou a medalha de bronze olímpica. Aplaudida de pé, a atleta trocou o choro pelo sorriso.
O look
Era para ser a calça da sorte, mas virou motivo de piada internacional. Depois que os noruegueses entraram na pista de curling com a roupa quadriculada e colorida, um nova-iorquino decidiu que o look não poderia ser esquecido e criou uma página em um site de relacionamentos só para ele. Resultado: mais de meio milhão de fãs em menos de duas semanas fizeram da vestimenta uma sensação na internet. Mas até que ela valeu a pena. A Noruega chegou à final e só foi derrotada pelos donos da casa, terminando com a medalha de prata.
A sem noção
A emoção de conquistar uma medalha de ouro foi tão grande para Wang Meng que ela não se segurou. Após descobrir que a Coreia do Sul havia sido desclassificada e que a China era a nova campeã olímpica, a atleta dos 3.000m da patinação de velocidade correu para pular o alambrado e abraçar seu técnico. O problema foi que Zhang Hui teve a mesma ideia. Na hora de levantar a perna para passar o muro, a lâmina dos patins de Meng cortaram o rosto da companheira de equipe. A cena bizarra assustou a torcida em Vancouver, mas nada que estragasse a festa em vermelho no Coliseu do Pacífico.
O trapalhão
Ele tinha duas opções... e escolheu a errada. Favorito ao pódio, o bielorrusso Leanid Karneyenka se perdeu em uma bifurcação do esqui cross country por equipes e ficou sem nenhuma medalha em Vancouver. O erro o fez voltar para o caminho certo e descer a montanha, o que lhe custou a última colocação na primeira bateria da semifinal. A decepção foi tanta que o esquiador se jogou no chão e ficou batendo na neve por alguns minutos. O problema é que ela não tinha nada a ver com isso e o título de maiortrapalhão dos Jogos já tinha dono.
A personagem
Musa, favorito, brasileiro. As montanhas canadenses não tinham um perfil preferido para derrubar. Uma a uma, as vítimas de suas neblinas e neves fofas foram caindo e perdendo segundos preciosos na disputa por uma medalha nos Jogos. Depois de provocar tantos erros e acidentes graves, Cypress Mountain e Whistler, duas das pistas de esqui mais rápidas do mundo, entraram para o circuito dos lugares que muitos atletas olímpicos preferem esquecer. Elas, com certeza, não irão deixar saudades a quem parou antes de cruzar a linha de chegada.
A tragédia
Os Jogos ainda nem tinham começado. Exatamente no dia da cerimônia de abertura uma tragédia deixou Vancouver de luto. Durante um treino do luge, Nodar Kumaritashvili morreu após bater com seu trenó e ser jogado para fora do traçado a 140km/h, batendo a cabeça em um dos postos de metal que sustentam a cobertura da pista.O georgiano foi levado ao hospital de helicóptero, mas não resistiu aos ferimentos. A Federação Internacional de Luge creditou a tragédia a um erro do atleta, porém o Comitê Olímpico da Geórgia acusou falta de segurança no local da prova.
Fonte: G1
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