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sábado, 10 de outubro de 2009

PSDB censura jornal com denúncias contra Alckmim - "democracia" tucana

Escrito por Roberto Ponciano
Qua, 19 de Abril de 2006 12:48
PSDB censura jornal com denúncias contra Alckmim - "democracia" tucana TSE concede ao PSDB liminar proibindo circulação do jornal da CUT/SP


O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu, nesta segunda-feira
(17/04), liminar ao PSDB para suspender a veiculação do jornal da CUT/SP. Em
seu último número (março/abril de 2006), a publicação faz um balanço
crítico da gestão de Geraldo Alckmin à frente do governo paulista. As
matérias do jornal, baseadas em denúncias amplamente divulgadas pela
imprensa e em dados fornecidos por entidades sociais e sindicatos, expõem o
desmonte do maior estado brasileiro após 11 anos de governo tucano.



Fax-símile da edição censurada

A solicitação do PSDB e a decisão do ministro Marcelo Ribeiro, do TSE,
de conceder a liminar configuram um retrocesso às conquistas
democráticas. Os tucanos partem da premissa de que o jornal faz “clara propaganda
eleitoral antecipada negativa” e argumentam que se trata de “uso ilegal
de recursos do trabalhador, por um braço do PT com fins eleitoreiros”,
conforme declarou o deputado estadual Sidney Beraldo (PSDB) à Folha
Online. Omitem que a CUT — ao representar cerca de duas mil entidades em
mais de mil municípios brasileiros — é a maior e mais autônoma central
sindical do Brasil. Como legítima representante dos trabalhadores, é seu
papel denunciar os desmandos de qualquer governo.

A chamada de capa do jornal revela o legado macabro da gestão tucana:
“Sai Alckmin, fica a violência, a miséria, o desemprego, as filas nos
hospitais, a superlotação nas salas de aula e 65 CPIs engavetadas”. A
riqueza da investigação, a argúcia nas denúncias e o alcance legítimo da
reportagem incomodaram o presidenciável tucano e seus correligionários,
que questionaram também a grande quantidade de exemplares impressos,
qualificando a iniciativa como de "caráter eleitoreiro".

Os sindicalistas reafirmam que é natural que, pela dimensão e pelo
esforço empreendido no dossiê, a publicação mereça tiragem maior. Além
disso, a longa lista de irregularidades praticadas pelo PSDB não é um
material jornalístico datado, com prazo de validade. Trata-se de uma peça
histórica, baseada em fatos consumados.
Diante de tais circunstâncias, a CUT-SP ampliou a tiragem de seu jornal
para 1,5 milhão de exemplares — a tiragem normal é de 30 mil.

Para Edílson de Paula, presidente da CUT-SP, o conjunto das matérias
publicadas no jornal não pode, em hipótese alguma, ser qualificado como
“eleitoral” ou “partidário”. A publicação, segundo ele, se baseou “em
notícias e estatísticas amplamente divulgadas pelos meios de comunicação
de massa”. Mais do que isso, Edílson enfatizou que a Central está a
serviço do trabalhador, procurando alertá-lo sobre sua realidade política.
"Assim como a grande imprensa tem toda a liberdade em investigar a vida
pública das autoridades, nós temos o compromisso de alertar o
trabalhador e mantê-lo consciente do que está acontecendo", diz o presidente da
CUT-SP.

A entidade informa que recorreu da decisão do TSE. "Já tomamos as
medidas cabíveis e vamos aguardar a apreciação do TSE sobre a nossa defesa",
afirma Edílson de Paula.

O desmonte de um estado

Segundo informações divulgadas na edição censurada, ao deixar o governo
para se candidatar à presidência da República, Geraldo Alckmin estava
às voltas com um estado deteriorado. O PIB de São Paulo, em 1985,
representava 36,1% das riquezas produzidas no Brasil. Passou para 32,6% em
2002, sendo ultrapassado pelo PIB do Rio de Janeiro e caindo para
terceiro lugar no ranking nacional. Se o desempenho econômico foi nefasto,
pior ainda se deu na área social, sobretudo na educação. “Devido ao Ciclo
de Progressão Continuada, os alunos da rede estadual têm passado de ano
sem saber ler e escrever. Ou seja, o Estado tem formado analfabetos
funcionais”, afirma Edílson de Paula. “Isso sem contar os índices
alarmantes da criminalidade: uma média de 1.260 seqüestros relâmpagos por ano e
mais de 40 rebeliões nos Complexos da Febem, que tem deixado os
paulistanos com medo de sair às ruas”.

O presidente da CUT destacou que, no governo tucano, o Primeiro Comando
da Capital (PCC) se fortaleceu, a ponto de organizar, impunemente,
numerosas rebeliões e fugas. É o reflexo da ausência de políticas públicas
estaduais contra o crime organizado. A cada ano, são assassinados cerca
de 16,3 mil jovens de 15 a 24 anos, pobres, do sexo masculino e da cor
negra. “Cadê o respeito e cumprimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente?”, indaga Edílson.

Para a população carente, um dos maiores tormentos urbanos, seriamente
agravado na gestão de Alckmin, foi o transporte público — insuficiente,
caro, de qualidade duvidosa. Alckmin, enquanto foi governador,
prejudicou o sistema de metrô e trens, ao prolongar modestamente as linhas,
aumentar o preço da passagem em 50%, não investir na melhoria das malhas e
permitir que a violência se alastrasse pelas estações. Só em 2005, os
assaltos cresceram 88% no metrô.

O desmonte ficou igualmente visível na área de saúde. “Com a
privatização dos hospitais e postos — que passaram a ser gerenciados pelas
Organizações Sociais (OSs), empresas privadas —, os atendimentos que já eram
problemáticos tornaram-se ainda mais difíceis para a população,
principalmente a de baixa renda”, afirma Edílson de Paula. A política de
privatizações, iniciada no governo Covas (1995-2001), causou transtornos e
prejuízos para essa mesma população carente. “O governo vendeu empresas
públicas importantes, como do setor de energia e financeiro, e nunca
prestou contas para a sociedade sobre a destinação dos recursos
arrecadados”, lembra Artur Henrique da Silva Santos, secretário-geral da CUT
Nacional. De acordo com ele, “as privatizações acarretaram no aumento das
tarifas de energia, na precarização nos locais de trabalho e demissões
de trabalhadores. Essa é a visão de Estado mínimo do PSDB, que prioriza
a receita financeira e esquece do lado social”.

Por fim, mas não por último, cabe ressaltar a falta de transparência de
Alckmin e seus parceiros. Em seu governo, aproximadamente 70 pedidos de
CPIs (Comissões Paramentares de Inquérito) foram arquivados na
Assembléia Legislativa, em contrariedade aos anseios de movimentos e entidades
sociais. “Enquanto o governo federal abriu a discussão para toda a
sociedade e investigou as denúncias de corrupção, o governo tucano caminhou
ao contrário: abafou graves denúncias como as que envolviam o
rebaixamento da Calha do Rio Tietê, a Sabesp, a CDHU, o Rodoanel, o Metrô e
agora a Nossa Caixa”, enumera Artur Henrique.

Cláudio Lembo — uma figura do médio escalão do PFL, que substituiu
Alckmin no governo — mantém a postura anti-social de seu antecessor. Chegou
ao cúmulo de tentar intimidar organizações não-governamentais, com
tentativas de retaliação por via judicial. “O PFL é mais conservador do que
o PSDB”, analisa Artur Henrique. “Tudo indica que as coisas não mudarão
e caminharão na linha de sucatear ainda mais o Estado”. A censura ao
jornal da CUT vai justamente nesse sentido de calar as entidades sociais
e acelerar o desmonte do estado, o que a CUT combaterá com trabalho e
dignidade.


André Cintra,
da Redação, com informações da CUT e da Folha Online

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