A edição 2128 da revista Veja publicou a matéria “O legado de Aécio em concreto” sobre a construção do novo Centro Administrativo do Governo de Minas Gerais, uma imponente obra projetada por Oscar Niemeyer que, quando concluída, irá reunir as sedes das administrações do Estado, incluindo o gabinete do governador.
A exemplo de outras reportagens publicadas pela Veja sobre o governo Aécio Neves, a matéria mais parece publicidade paga. Não há uma única crítica contra a obra. Nenhum representante da oposição do governo foi ouvido. Tudo que se lê é pura exaltação da obra e, por tabela, do governador Aécio Neves.
Em nenhum momento é questionada a real necessidade do Centro Administrativo e se o seu gigantesco custo de R$ 1,4 bilhão (informado na reportagem) é compatível com a obra ou se haveria algo por trás disso, lembrando que a previsão inicial apontava um valor bem mais modesto, embora ainda elevado, de R$ 500 milhões (isso não foi informado pela Veja).
Ressalte-se ainda que o estado de Minas Gerais é extremamente carente de investimentos públicos – educação, transportes, segurança, saúde e muitos outros. A quantia gasta com essa obra eleitoreira e faraônica seria suficiente para muitas outras obras com benefícios diretos a toda a população.
Na edição seguinte da publicação da matéria, a Veja publicou duas cartas de leitores igualmente elogiando a obra e o governador Aécio Neves. Curioso é que ambos não residem em Minas (uma delas afirma literalmente “nunca pisei em solo de Minas Gerais”). O autor desta carta aberta (morador de Minas Gerais) também escreveu à Veja, questionando a necessidade do centro e seu custo. A revista, como esperado, não publicou essa ou qualquer outra opinião contrária à obra, que possa ter recebido.
Como leitor da Veja há mais de 35 anos, tenho cada vez mais dúvidas sobre sua imparcialidade – atributo indispensável de qualquer órgão da imprensa que deseje ter um mínimo de credibilidade.
E aí está o núcleo da questão. Mesmo assumindo, numa hipótese muito remota, que o Centro Administrativo seja realmente necessário, o custo seja compatível com seu tamanho e os questionamentos contra ele sejam injustos, o simples fato da Veja se recusar a publicar uma única linha que seja sobre o outro lado dessa obra já é motivo mais que suficiente para que qualquer pessoa minimamente esclarecida tenha dúvidas da imparcialidade desse periódico.
É importante acrescentar que a revista Época, concorrente da Veja, já havia publicado matéria sobre mesmo assunto, “A Disneylândia de Aécio”, também falando da grandiosidade da obra, mas sem omitir informações contrárias a ela, como Veja faz. Quem quiser pode facilmente acessar a versão para a Internet da matéria em:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/E
Muitas pessoas (inclusive os cidadãos mineiros) ignoram certos detalhes sobre Minas Gerais e seu governo. Neste estado os investimentos públicos raramente beneficiam a população. As rodovias estaduais são um claro exemplo (se fossem citados todos, certamente essa carta teria o volume de um grande livro). Elas são uma das bandeiras do governo Aécio Neves, que se gaba de ter levado asfalto a todas as cidades do estado.
Eu gostaria muito de mostrar aos defensores desse governo as reais condições destas rodovias. Em minha cidade, Pouso Alegre, uma das obras do governo estadual foi o asfaltamento da Av. Perimetral, sub trecho da MG 290. O asfalto foi concluído em 2007 e apenas 6 meses após a conclusão já estava quase intransitável, tamanha era a quantidade de buracos e falhas no pavimento. A quem acha que isso é mentira ou exagero, convido a “passear” pela avenida por meio dos seguintes vídeos, sem maquiagens ou edições, disponíveis na Internet, filmados em 2008, menos de um ano após concluído o asfaltamento:
http://www.youtube.com/watch?v=Q0xaeM_0
http://www.youtube.com/watch?v=PX4-AxHr
http://www.youtube.com/watch?v=87bRjaMd
Mas essa, obviamente não é a única obra vergonhosa do Governo Aécio Neves. Dei-me ao trabalho de fazer outras filmagens de algumas rodovias estaduais e disponibilizá-las na Internet, para que qualquer cidadão possa comprovar sem correr os riscos que os mineiros enfrentam:
http://www.youtube.com/watch?v=DhVF2sO7
http://www.youtube.com/watch?v=-98JxtZ0
http://www.youtube.com/watch?v=ulacPYp-
http://www.youtube.com/watch?v=t9acvy2q
http://www.youtube.com/watch?v=ugKZxwry
A quem se der ao trabalho de ver esses vídeos, lembro que as rodovias MG458 e MG290, na ocasião das filmagens, haviam sido recentemente “recuperadas” pelo governo Aécio Neves. E mesmo assim, não possuem acostamento, pista adicional para veículos pesados e, muitas vezes, nem sequer sinalização.
Tão baixa qualidade das obras públicas não significa, por outro lado, que o Governo Mineiro cobre pouco de seus cidadãos. Em matéria de tributação, Minas Gerais é um dos estados mais famintos da União (se não for o maior). Alguns exemplos:
1. Pagamos pelo litro do etanol mais de R$ 1,60, por causa da incidência do ICMS recordista de 25%. Em nosso vizinho, o estado de São Paulo, o litro deste combustível custa em torno de R$ 0,50 a menos. Entre os estados produtores de etanol, Minas é o que possui o maior preço;
2. O IPVA mineiro, juntamente com o paulista, tem a maior alíquota (4%) e o menor desconto para pagamento a vista (3%) do Brasil. Outro detalhe relevante é que o governo Aécio Neves reduziu este imposto (a somente 1%) para as locadoras de veículos. Não foi nenhuma coincidência o fato de que uma grande locadora de veículos, a Localiza, foi umas das maiores doadoras da campanha eleitoral do governador.
3. A alíquota de ICMS de energia elétrica dos contribuintes residenciais também é recordista nacional: nada menos que 30%. Some-se a isso o fato que o valor do quilowatt/hora cobrado pela estatal mineira, a CEMIG, ser um dos mais altos do Brasil.
4. Por outro lado, as empresas de pequeno tinham benefícios fiscais para aquisição de bens do ativo imobilizado (podiam abater 30% do imposto estadual devido) e impressoras fiscais (idem, com 100% do valor). Em 2003, logo que assumiu o governo, Aécio Neves pôs um fim a estes incentivos.
Sem esfolar os bolsos dos contribuintes mineiros, como é que o Aécio Neves poderia bancar o centro administrativo?
Mais: o governo Aécio Neves mantém controle absoluto sobre quase toda a imprensa mineira. Com raras exceções, não se vê uma única crítica a seu governo (a Veja não me deixa mentir), fato que explica a grande popularidade do governador. Um exemplo, desta submissão é o grupo UAI, a maior empresa de comunicação de Minas, que edita o Jornal Estado de Minas, provedores de acesso à Internet, rádios e emissoras de TV (transmissoras da Rede Globo) espalhadas em todo o estado. Não há uma única crítica ao governo mineiro em nenhum meio de comunicação deste grupo.
Alguns jornalistas que ousaram abrir a boca foram imediatamente amordaçados e demitidos. O exemplo mais notório foi a demissão praticamente ao vivo do jornalista, Jorge Kajuru, da Band. A violência contra esses profissionais lembra os períodos mais negros da ditadura Vargas ou do regime militar brasileiro, que ironicamente, o avô de Aécio Neves ajudou a combater.
Uma vez que seria total perda de tempo enviar esta carta apenas à Veja, vou encaminhá-la a outras pessoas de meu círculo de relacionamento, outros órgãos e profissionais da imprensa e postá-la em fóruns de discussão na Internet. Peço aqui minhas desculpas a quem não gostou dessa mensagem, mas acredito isso interessa a qualquer brasileiro preocupado em saber um pouco da realidade de alguém que ameaça mandar neste país.
Espero assim, como cidadão residente em Minas Gerais e, dentro de minhas limitadas possibilidades, mostrar a outras pessoas que nem tudo que se publica sobre Minas Gerais e seu governador condiz com a realidade dos fatos.
Nogueira Marmontel
Pouso Alegre, MG
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Carta aberta à Veja –Imparcialidade – Aécio Neves
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