A carta que publico a seguir foi escrita em 2008, durante a exibição, pela Rede Globo, do BBB-8 (Big Bosta Brasil 8), por um profissional da Petrobras, após o acidente com um helicóptero que caiu no mar, provocando a morte de quatro pessoas. A revolta que aquele profissional sentiu — e certamente ainda está sentindo, até hoje — relativamente ao Big Bosta da Rede Globo, não chega nem nos 0,5% da que eu sinto, desde a exibição da edição número 1 dessa merda. Mas vamos à carta:
Prezado Senhor Pedro Bial,
Digníssimo jornalista, apresentador da Rede Globo de Televisão.
Confesso, senhor Bial, que não sou espectador do programa o qual o senhor apresenta. Talvez para felicidade da minha cultura e para infelicidade do índice de audiência, ao qual seu programa está atrelado. Mas, tive durante um dia desses, num dos raros casos fortuitos que o destino apresenta, a oportunidade de, por alguns minutos, apreciar o tão falado Big Brother Brasil, o BBB.
Para minha surpresa, em algumas vezes o senhor, ao chamar os participantes para aparecerem no vídeo, o fez da seguinte maneira: “Vamos agora falar com os nossos heróis!”. De imediato tive uma surpresa que me fez trepidar na cadeira. Heróis? O senhor chama aquela troupe de imbecís, que passam alguns dias aboletados numa confortável casa, participando de festas, alguns participando até de sessões de sexo sob os edredons, falando palavras chulas e, no fim, podendo ganhar um milhão de reais, de heróis?
Pois bem, senhor Pedro Bial, eu trabalho numa plataforma marítima, localizada a aproximadamente 180 km da costa brasileira, e contribuímos, mesmo modestamente, para que o nosso país alcançasse a auto-suficiência em Petróleo, e continuamos lutando, todos nós, para superar esse patamar. No fatídico dia 26 de fevereiro presenciamos um acidente com um dos helicópteros que faz nosso transporte entre a cidade de Macaé e a plataforma. As imagens que ficaram em nossa mente, senhor Bial, irão nos marcar para o resto das nossas vidas.
Os seus “heróis”, senhor Bial, são meros coadjuvantes de filminhos vagabundos, de quinta categoria, comparados com os atos de heroísmo que presenciamos naquele momento. Certamente o senhor, como jornalista que é, deve estar a par de todo o acontecido. Mas sei que os detalhes o senhor desconhece. Pois bem, perdemos alguns colegas, senhor Bial, que estavam indo para casa após haver trabalhado quinze dias em regime de confinamento. Não o confinamento a que estão sujeitos os seus “heróis”, pois eles têm toda uma parafernália de conforto, segurança e bem estar, que difere um pouco da nossa realidade.
Durante esse período de quinze dias, esses colegas falaram com a família apenas por telefone. Não tiveram oportunidade de abraçar seus filhos, de beijar suas esposas, de rever seus amigos e parentes. Logo após decolar desta plataforma, com destino às suas casas, o helicóptero caiu no mar, ceifando suas vidas de modo trágico e desesperador. E seus “heróis”, senhor Bial, a que tipo de risco estão expostos? Talvez aos paredões das terças-feiras, a rejeição do público, a não ganhar o prêmio milionário ou a não virar a celebridade da próxima novela das oito?
Os heróis daqui, senhor Bial, foram aqueles que desceram num bote de resgate, mesmo com o mar apresentando um suel desafiador. Nossos heróis, senhor Bial, desceram numa baleeira, nossos heróis foram os mergulhadores, que de pronto se colocaram à disposição para ajudar, mesmo que isso colocasse suas vidas em risco. Nossos heróis, senhor Bial, não concorrem ao prêmio de um milhão de reais, não aparecem na mídia, não posam pelados após o turno de trabalho, nem têm os seus nomes divulgados. Mas são heróis na verdadeira acepção da palavra. São de carne e osso e não meros personagens de mambembe vagabundo, manipulados pelos índices de audiência.
Nossos heróis convivem aqui, no dia-a-dia, sem câmeras, sem aparecerem no Faustão ou no Jô Soares. Heróis, senhor Bial, são todos aqueles que diariamente, saem das suas casas, nas diversas cidades brasileiras, chegam à Macaé ou Campos e embarcam com destino às plataformas marítimas, sem saber se regressarão às suas casas, se ainda verão seus familiares, ou voltarão ilesos, pois tudo pode acontecer: numa curva da estrada, num acidente de helicóptero, no vôo comercial de regresso a sua cidade de origem… Não tenho autoridade suficiente para convidá-lo a conhecer nosso local de trabalho e, conseqüentemente, esses nossos heróis, mas posso lhe garantir, senhor Bial, que caso o senhor estivesse presente nesta plataforma durante aquele fatídico acidente, seu conceito de herói certamente seria outro.
Em memória dos colegas: Durval Barros, Adinoelson Gomes, Guaraci Soares e Marcelo Manhães.
Carlos Augusto Lordelo Almeida
Técnico de Segurança
PETROBRAS/ UN-BC/ATP-MRL/OP-P18/GEPLAT
Fonte: http://idiotaz.com.br
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Um Herói Revoltado
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