Por María Jesús Ribas / EFE
O desconforto que sentimos quando alguém nos olha diretamente nos olhos costuma surgir do temor de que o outro nos prejudique, critique, exclua, ignore. Sentimo-nos ameaçados, intimidados. Inclusive tememos que a pessoa que nos olha descubra "algo ruim" em nós.
Nossa mente guardiã e temerosa antecipa: "perceberá minha timidez", "rirá de mim pelo meu aspecto físico", "não estou a sua altura". Refletimos no outro o que pensamos e sentimos sobre nós mesmos. Frequentemente, os sentimentos de culpa, complexo ou vergonha também se manifestam de forma evidente diante de um desconhecido que nos olha.
Diante de seu olhar direto, ficamos na defensiva, prejulgamos e buscamos rapidamente como nos proteger: olhando para outro lado, rindo, mesmo que esteja fora de lugar, ou fugindo da presença de quem nos olha. Julgamos o ato sem elementos de julgamento, buscando razões para fechar a passagem em direção a nosso eu interior.
"Se estamos em harmonia conosco mesmos e com os outros, não tememos olhar nos olhos dos demais e que olhem diretamente nos nossos. O outro é igual a nós: também se debate entre o medo e o amor, entre a confiança e a fuga", explica a terapeuta transpessoal María Campos Olivas.
Se olharmos do coração, conectado com nosso autêntico ser essencial e com nossa parte mais emocional, em vez de olhar da cabeça, onde residem nossos medos, defesas, barreiras e julgamentos, conseguimos nos livrar dos preconceitos, abrir-nos aos outros, relacionar-nos com eles a partir do amor, da confiança.
Aproximamo-nos tanto do outro que em um instante descobrimos que também somos o outro, que não há separação entre os seres humanos.
"O olhar autêntico, sincera, confiante, 'olhar com o coração', que nos aproxima dos demais, pode ser aprendido, ensaiado e adquirido", afirma a especialista.
Primeiro, podemos praticar com nossos parentes, amigos ou companheiro. Depois, com pessoas ao redor que acostumamos "olhar com a mente", e finalmente com todos aqueles novos seres que se aproximam de nós, pela primeira vez, abrindo-se à grande aventura de realizar "turismo no outro".
Olhar com o coração.
A terapeuta propõe um simples exercício para "aprender a olhar com o coração". Consiste em se sentar em uma cadeira frente a frente, com outra pessoa e se olhando mutuamente nos olhos, com nosso acompanhante situado a uma distância que seja confortável para ambos.
É preciso fixar o olhar, cada um nos olhos do outro, sem que nada os distraia. Concentrar-se na própria respiração, procurando relaxar.
"Seja você mesmo, em vez de tentar parecer algo. Esqueça de fazer gestos ou tentar interpretar um papel. Retire as máscaras frequentes (sedutor, amável, sério, forte) e deixe fluir o momento", aconselha a terapeuta.
Se um pensamento chegar à mente, é preciso deixar que vá embora sem tentar retê-lo, repeli-lo ou interpretá-lo. Riso, lágrimas, cansaço, afeto, ternura? Se brotarem as emoções, é preciso deixar que surjam naturalmente e prosseguir com o exercício olhando para a pessoa que está em frente.
Trata-se de observar o que sente em vez de imaginar o que estará pensando ou sentindo a outra pessoa. Abre-se ou fecha ao outro? Custa olhar nos olhos de outro ou que esse alguém o olhe? Tenta se proteger, desviando os olhos ou adotando uma atitude determinada? Procura conseguir a aprovação da outra pessoa, tentando ser bom, amável ou especial?
Também é preciso se perguntar, enquanto mantém o olhar com a outra pessoa: Estou lhe julgando? Ao olhar, sinto medo? O que temo ou me inquieta?
É surpreendente a quantidade de informação que podemos obter mediante este "exercício de olhar compartilhado e consciente sobre nós mesmos, personalidade, reações, compulsões e moldes mentais", afirma Olivas. "Isso acontece porque, ao olhar o outro, também estamos olhando a nós mesmos", diz a especialista.
0 comentários:
Postar um comentário