Jornalista que se assustou com a quantidade de cartas de amor que criminosos sexuais recebem na cadeia fez um livro sobre essas mulheres apaixonadas. "Em mim sobrou uma profunda tristeza", escreve
LAURA LOPES
Gilmar Rodrigues soube que o Maníaco do Parque recebia milhares de cartas de amor todos os meses e resolveu estudar que tipo de mulher se apaixona por um estuprador
Assustado, Rodrigues resolveu escrever um livro sobre essas mulheres "loucas de amor". Loucas de Amor - mulheres que amam serial-killers e criminosos sexuais, da editora Ideias a Granel e lançado na terça (17) em São Paulo, conta vários casos como o de Pereira, de várias mulheres iludidas e até transcrições de cartas. Segundo o autor, "entre mulheres que se relacionam com criminosos sexuais dos mais diversos tipos, há muitas pobres e nem um pouco atraentes. Mas existem universitárias, mulheres de classe média, mulheres bonitas e, com exceção de uma, sem problemas mentais aparentes". Depois de estudar a fundo a personalidade delas, o jornalista afirma que não se pode desclassificá-las, tratando-as como loucas ou degeneradas sexuais.
Na maioria da vezes, são mulheres que nunca tiveram bons relacionamentos afetivos, sofreram abandono na infância ou abuso sexual, nem sempre foram tratadas com amor e carinho pelos pais. Elas têm baixa autoestima, algumas com visão romântica e infantilizada do amor. Outras veem isso como desafio à sociedade ou, como nunca tiveram atenção, ligam-se com homens que também não tiveram. "É uma simbiose de marginalizados. Ela vê o criminoso sexual como um igual", afirma o escritor.
A pesquisa durou quatro anos. Nesse tempo, Rodrigues entrevistou cerca de 80 pessoas, entre presos, visitantes dos detentos, mulheres que se correspondiam com homens condenados por crime sexual, advogados, agentes penitenciários, promotores, jornalistas, juízes, delegados e psiquiatras. De acordo com ele, "na penitenciária de Itaí, no interior paulista, onde estão confinados apenas homens condenados por crime sexual, há mulheres, até casadas, que escrevem para os presos, ansiosas por um relacionamento amoroso", diz.
Continuam casados até hoje? Não. Ela começou a perceber comportamentos violentos, atitudes estranhas e mudanças bruscas no comportamento dele. Muitas dessas mulheres que se casam separam depois. Em algum lugar de suas mentes fantasiosas e românticas existe algo que as diz para não seguirem em frente, que as alerta sobre o caminho perigoso que pretendem trilhar. Rodrigues escreve: "Durante todo o trabalho, busquei uma razão capaz de explicar o fenômeno, explicar essa atração feminina. Em vez de encontrar duas ou três respostas diretas, elas se multiplicaram em cada caso, cada vida. Em mim sobrou uma profunda tristeza. Um retrato perturbador da solidão e da miséria humana".
Making of
As histórias as quais Gilmar Rodrigues teve acesso durante sua pesquisa o abalaram demais. O lado pessoal do trabalho foi publicado em quatro histórias em quadrinhos, desenhados por Fido Nesti. É uma espécie de making of do livro. "Achei que tinha coisas interessantes que apareceram na pesquisa e não caberiam no livro porque o assunto é muito forte para colocar na primeira pessoa", diz. No livro, ele dá sua opinião sobre os fatos, mas não coloca sua experiência pessoal. "Os quadrinhos dão uma certa leveza, respirada, para esse assunto pesado", afirma.Numa das passagens em HQ feita por Fido Nesti, Gilmar vai a um presídio entrevistar estupradores, ou "Jacks", na gíria dos criminosos
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