Quem está acostumado com os interesses mesquinhos que movem os monopólios, qualquer que ele seja, deve estar pensando como reagirá a Globo à perda, para a Record, da exclusividade na transmissão dos Jogos Panamericanos de 2011 (México) e das Olimpíadas de 2012 (Londres).
Afinal de contas, a TV do Big Brother tem feito valer o seu poder econômico e subjuga sem dó os adversários, muitas vezes levando de roldão também o cidadão brasileiro que se submete, sem defesa, aos seus caprichos.
Você deve se lembrar do "seqüestro" televisivo do Guga, nosso maior tenista, que um dia deixou de brilhar nas manhãs dos fins de semana na TV Manchete (TV aberta) e foi empurrado pela Globo para a TV por assinatura, privando os menos abonados de assisti-lo ao vivo.
A emissora do Jardim Botânico não podia tolerar aquelas partidas memoráveis que prendiam por horas a atenção dos brasileiros e lhes roubava a audiência.
Pronto, o Guga sumiu, assim como somem os grandes clubes e os grandes jogos, de todos os esportes, escondidos no canal Sport TV e, mais frequentemente, no Première.
A grana é quem manda, meu amigo, minha amiga, e, portanto, se quiser ver o Paulista, o Brasileirão (séries A e B), o time do Bernardinho, as nossas ginastas, o futebol de salão (viva o Falcão!) e até a seleção canarinho trate de sintonizar a Globo.
Mas como monopólio tem sempre seus desafetos, era de se esperar que a Globo um dia acabaria sendo passada para trás e foi exatamente o que aconteceu, com perda para a Record do próximo Pan e das próximas Olimpíadas.
E agora?
A gente ainda não sabe o que vem por aí, mas Daniel Castro, na Folha de S.Paulo da semana passada e desta semana (respectivamente, 02/10/ e 07/10/, p. E11 e E10 da Ilustrada), sinalizou uma reação da Globo, absolutamente provável, se considerarmos a trajetória ética da emissora.
Internamente, afirma o colunista, ela já discute o boicote ao esporte olímpico, ou seja, cogita de deixar de lado aqueles esportes que despertam interesse público para não levantar a bola da Record que irá faturar com as próximas transmissões.
Insiste também em adquirir para a TV paga a exclusividade da transmissão da Olimpíada. Faz sentido?
Se ela efetivamente, como indica Daniel Castro iniciar uma ação para boicotar o esporte olímpico brasileiro, você dirá que é dor de cotovelo ou sacanagem mesmo?
Pensando bem, para a Globo faz sentido.
Não faz tanto tempo assim, ela deixou de noticiar o Campeonato Mundial de Clubes da Fifa realizado no Brasil, aquele em que o Timão faturou o caneco, simplesmente porque era exclusividade da Bandeirantes.
Isso mesmo, ela boicotou o torneio só porque não era ela quem estava transmitindo.
Então, a gente pode acreditar na hipótese de que ela irá inventar qualquer coisa para melar a transmissão da Record.
Evidentemente, todos nós esperamos que ela não faça isso, mesmo porque a reação da opinião pública será contundente e a máscara de emissora socialmente responsável (você alguma vez acreditou nisso?) irá cair por terra.
Mas não apostaria uma ficha em seu compromisso público porque ela não é dada a isso, apesar do discurso e de algumas ações pontuais utilizadas para dissimular seu monopólio.
Todo mundo sabe como age a Globo (lembra da campanha das diretas, do debate do Lula com o Collor, da manipulação dos resultados para prejudicar o Brizola?) e pode esperar qualquer coisa que venha de lá.
Está bem, reconhecemos a competência de sua equipe de jornalismo e de seus artistas, o sucesso de parte de sua programação, mas não é isso que está em jogo.
O que merece repúdio e uma ação dura da sociedade é a sua tendência para tornar todo mundo refém de suas vontades, com jogos transferidos para tarde da noite ou jogados sol a pino (massacrando os jogadores) no horário de verão para que o Faustão entre no ar na hora combinada.
A Globo continua reinando, essa é a verdade, talvez porque autoridades, receosas de seu monopólio (que só é tolerado em ditaduras ou em países onde a televisão é privilégio estatal!), curvam-se a ela, acovardados diante do seu poder imenso (alimentado por verbas oficiais formidáveis que, num círculo vicioso, contribuem para mantê-la líder).
Não há dúvida de que vem chumbo grosso por aí e que a Globo fará tudo para impedir que a Record consiga êxito nas suas transmissões, mesmo que, com isso, possa causar prejuízos aos cidadãos brasileiros.
Nós não podemos nem devemos assistir a esta briga de camarote porque ela diz respeito a todos nós.
Se dependesse da nossa vontade, certas transmissões (como a dos jogos da seleção brasileira e dos torneios de grande destaque) deveriam, obrigatoriamente, ser compartilhados pelas várias emissoras.
Constitui abuso inominável comprar jogos de futebol ou de outros esportes e não transmiti-los, privando os brasileiros de acompanhá-los pela TV.
Se os legisladores fossem mais razoáveis e não continuassem comendo na mão da Globo, já teriam mudado a regra do jogo, o que seria fácil.
Mesmo que uma empresa tenha exclusividade, deveria perdê-la, se não transmitisse os jogos adquiridos. Simples, não?
Vamos raciocinar: você concordaria que uma empresa aérea tivesse a exclusividade de voar para uma cidade e decidisse cortar esta rota de vez, não permitindo que outra possa cobri-la?
Você aceitaria que uma empresa tivesse o monopólio da telefonia em todo o País e decidisse quais as cidades poderiam estar conectadas com o sistema, impedindo outra empresa de realizar o serviço?
Você aceitaria que o açougue do seu bairro tivesse o monopólio da venda de carne no local , não a fornecesse e proibisse outro estabelecimento de fazê-lo?
Está tudo errado e é preciso derrubar de vez esse monopólio.
Não me venham dizer que é assim em todo mundo, porque isso não acontece nos EUA, nos países democráticos da Europa etc, onde é proibido estabelecer impérios jornalísticos ou televisivos.
Queremos assistir a seleção brasileira em outros canais, queremos ver jogos importantes, de torneios importantes, na TV aberta, porque isso faz parte de uma postura cidadã.
Chega de aturar esse processo de exclusão que alija os menos favorecidos para engordar os lucros de emissoras monopolísticas.
Vamos convocar as torcidas para exigir esse direito, vamos mobilizar o cidadão brasileiro para que cobre cidadania de quem anda abusando do poder econômico e mantendo privilégios televisivos com a cumplicidade de governos e parlamentares.
Vamos entupir a caixa postal da Globo com nossos e-mails, se ela boicotar os esportes olímpicos, e vamos começar uma campanha para impedir que ela continue não exibindo, na TV aberta, os jogos que anda comprando com exclusividade.
Comprou, tem que passar ou , democraticamente, libera para outras emissoras.
Em tempo: a posição aqui explicitada não está sendo financiada por outra emissora de TV, como talvez a emissora líder poderá insinuar, mesmo porque nossas TVs privadas têm a mesma cabecinha egoísta e vivem apenas para defender seus privilégios.
Elas anseiam ser uma Globo no futuro e, se depender delas, os brasileiros continuarão a ver navios (jogos de futebol não!).
Fariam, a meu ver, o mesmo, se estivessem na posição da Globo.
Logo, a desconfiança é em relação a todas as grandes redes, embora esteja a Globo em foco na coluna de hoje.
Não somos bobos , não vamos cair nessa.
Não é porque a Globo nos pune que a gente vai reclamar para o bispo.
Ah, não. Já pagamos dízimos demais.
Pela concorrência na mídia, pela liberdade de transmissão.
Estamos fartos dos caciques que dominam os meios de comunicação.
O povo não quer só comida, quer futebol, tênis, vôlei, ginástica olímpica, democracia midiática etc.
Só não quero pagar para ver porque, com a Globo, a gente já anda pagando demais (como está cara a TV por assinatura no Brasil, uma das mais caras do mundo!).
Eu, hein?
Plim-plim e ponto final.
Wilson da Costa Bueno
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Pan, Olimpíadas e monopólios televisivos
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