De onde vem os nomes dos clubes de futebol?

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Um clube precisa de um uniforme, de uma identidade e de uma série de conquistas, mas, antes de mais nada, precisa ter um nome. E por mais estranho que esse nome possa parecer, sempre haverá uma explicação.
Enquanto terminações como “Futebol Clube”, “Atlético”, “United” ou “Olympique” são fáceis de serem  compreendidas, times como Corinthians, Juventus, Arsenal, CSKA ou Galatasaray podem esconder histórias mais curiosas. O Megacubo faz uma viagem no tempo para mostrar as origens de alguns dos nomes mais conhecidos do futebol mundial.
Berço do futebol, a Inglaterra viu alguns dos seus clubes mais importantes nascerem dentro de fábricas.  Assim, os operários da usina de armamentos Royal Arsenal, de Woolwich, em Londres, não tiveram dificuldades em escolher um nome para a equipe: Arsenal. E com um canhão no distintivo e o apelido de Gunners, o time relembra aos torcedores mais jovens um pouco dessa história, eliminando a possibilidade de um passado repleto de atacantes “matadores”. A mesma explicação é válida para os homônimos da Ucrânia (Kiev), da Argentina (Sarandi) ou de Honduras (Roatán).
Assim como na Inglaterra, na Argentina foram os funcionários dos transportes ferroviários da empresa  Ferrocarril Central Argentino que trataram de fundar o Rosário Central e o Ferro Carril Oeste, enquanto marinheiros australianos e japoneses foram responsáveis pela origem do Central Coast Mariners e do Yokohama Marinos. Bem conhecida no Leste Europeu, essa tradição explica a preferência por certos nomes: CSKA, Dínamo ou Lokomotiv possuem, respectivamente, ligação com o exército, a polícia nacional ou a empresa de transporte ferroviário.




Aqui no Brasil, há 99 anos, por volta das 20h30, mais um grupo de operários esperavam o bonde para voltar para casa na esquina da Rua dos Italianos com a Rua José Paulino no bairro do Bom Retiro. À luz de um lampião, esses trabalhadores tiveram a idéia de criar uma equipe de futebol. Nascia aí o Sport Club Corinthians  Paulista. O nome, no entanto, só surgiu depois, em uma reunião realizada na casa do alfaiate Miguel Bataglia, futuro primeiro presidente do clube. Nessa época passava por São Paulo para fazer amistosos um time de estudantes ingleses chamado Corinthian FC. O futebol do clube encantou a todos, inclusive aqueles cinco rapazes do Bom Retiro. Então, Joaquim Ambrósio pediu a palavra e propôs que o time se chamasse Corinthians em homenagem aos jovens ingleses que passara com grande sucesso e que, segundo suas palavras, também fora fundado à luz de um lampião de gás.
Mas trabalhar para uma empresa não é garantia de fazer parte de um time. No início do século 20, os diretores de uma loja de luxo em Buenos Aires criaram o Maipu Banfield para disputar um campeonato e impediram a participação dos funcionários mais jovens: mesmo pagando uma mensalidade, eles podiam apenas assistir aos jogos. Indignados, estes jovens decidiram se tornar independentes e criaram a sua própria equipe. O nome dela? Independiente, é claro.
Para alguns dos maiores clubes do mundo, a origem dos nomes não teve relação com empresas ou trabalho, mas sim com escolas e universidades. Dois exemplos na América são o Universitário de Lima e o Estudiantes de La Plata, cujos estudantes eram quase sempre tão habilidosos nas salas de aulas como nos campos. Os do Colégio Comercial Anglicano Argentino, de Rosário, decidiram homenagear um inglês de nome Isaac Newell, fundador da escola e responsável pela introdução do futebol no país.


Em 1904, então, nasceu o Newell’s Old Boys — um grupo de “antigos alunos”. Anos mais tarde, alguns representantes como Jorge Valdano, Diego Maradona e Lionel Messi provaram que as aulas de futebol eram do mais alto nível.
Já no bairro de Galata, em Istambul, os alunos de um colégio local foram saudados pelo público ao vencerem a sua primeira partida oficial, em 1905. Impressionados, os torcedores quiseram saber quem eram e de onde vinham aqueles jogadores de talento. “Do Palácio de Galata”, foi a resposta, sendo que “palácio” em turco é pronunciado Saray. Sami Yen, criador do clube, gostou da sonoridade do termo e optou por oficializar o nome Galatasaray. “Desde o início tínhamos como objetivo principal jogar como os ingleses, ter nomes e uniformes de cores diferentes e vencer todos os nossos rivais”, escreveu na época Sami Yen, que mais tarde deu o nome ao estádio do clube. E a profecia do fundador foi realizada em 2000, quando a equipe ganhou a Copa da UEFA, único troféu em nível europeu conquistado até hoje pelo futebol turco.
A juventude não é eterna, mas um nome pode se tornar. Em Turim, na Itália, adolescentes de 14 a 17 anos criaram uma equipe para marcar a paixão pelo futebol e escolheram o termo em latim Juventus. O nome se tornou uma referência. Ironia do esporte, 112 anos mais tarde, o clube fundado por jovens passou a ser conhecido mundialmente pelo apelido de “Velha Senhora”.
Foram também nas raízes latinas que o time de Osaka, no Japão, encontrou inspiração. A ideia veio da  máxima de que o futebol é jogado com as pernas. Em italiano, perna se diz gamba. Foi o suficiente para que, em 1980, o Gamba Osaka fosse criado, com o nome tendo ainda mais ligação com a língua local pelo fato de gambaru, um verbo japonês, significar “insistir” ou “persistir”.
Outra fonte de inspiração são as personalidades históricas. O Ajax de Amsterdã escolheu o seu nome para homenagear o herói da mitologia grega conhecido pela sua coragem e audácia, assim como Hércules deixou a sua marca na Espanha (Hércules de Alicante), na Holanda (Heracles Almelo) ou na própria Grécia (Iraklis de Salônica). No Chile, o clube mais popular do país tirou o seu nome do grande guerreiro Mapuche Colo-Colo, que ficou conhecido por combater os espanhóis no século 16.
Os mesmos espanhóis deixaram outros traços no país: o Unión Española, de Santiago, foi criado por imigrantes ibéricos no final do século 19. Outros times receberam nomes em função da etnia de seus fundadores. O Celtic, por exemplo, teve origem na comunidade irlandesa de Glasgow, enquanto os chilenos do Audax Italiano e do Palestino tiveram as bases respectivamente nas imigrações italianas e palestinas.
No Marrocos, por outro lado, um fenômeno inverso acabou acontecendo. Sob protetorado francês de 1912 a 1956, Casablanca não oferecia aos cidadãos locais muitas possibilidades para a prática do esporte, mas a dificuldade chegou ao fim com a criação do Wydad (”amor”, em árabe), primeiro clube fundado no país. A história conta que um dirigente chegou atrasado a uma das reuniões para criação da equipe por estar assistindo ao último filme da atriz egípcia Oum Kalsoum, cujo nome era exatamente Wydad.

Adaptado do Peroxas